Torres Vedras – Portugal
O convite
Em meados de 2023 recebi do querido artista Lauro Monteiro Filho, organizador do Coletivo Brasil, o convite para expor meus trabalhos em Torres Vedras, na exposição coletiva que estava organizando para Outubro. Em adicional, o convite incluía uma semana de Residência Artística na cidade, com a contrapartida de oferecer oficinas para seguimentos da comunidade.
Claro que fiquei honradíssima com o convite e já comecei a preparar a oficina e as malas…
Foram dias ótimos e de muita troca e aprendizado.
A exposição Coletivo Brasil
Juntamente com outros doze artistas brasileiros, ocupamos a Sala 02 da Galeria Paços com nossos trabalhos.
A curadoria foi de Lauro Monteiro Filho. O tema, “O Tempo da Conexão”
Texto dia Sra. Ana Umbelino, Vereadora da Cultura:
“A palavra conexão provém do latim conexione, declinação de conexio, em que está presente o étimo de nexus, nexo, vinculação, ligação, união. Conexão condensa, por isso, o ideário sob o qual repousa o Arte ao Centro enquanto movimento cultural artístico de ‘encontro entre diversidades’ e de resgate do valor do tempo.
(Re)significar o conceito de fronteiras inscreve-se como intenção primordial do Arte ao Centro, numa demanda por poéticas, processos criativos e corpos de trabalho artístico vários.
O Arte ao Centro tem convocado, ao longo do tempo, colectivos de artistas e criadores que operam no Brasil e em Portugal, construindo fecundos diálogos. Esta experiência de alteridade, concorre para gerar pensamento, adensar reflexões e ensaiar inéditas formas de relação com a comunidade, na sua irredutível diversidade e pluralidade, tomando a democracia cultural como farol. A par de uma exposição colectiva, o Arte ao Centro contempla um programa paralelo consubstanciado num articulado de acções de mediação artística junto de diversas audiências.
A presente edição do Arte ao Centro, de que esta exposição constitui expoente, confere acrescido significado à evocação dos 20 anos da Galeria Paços, inaugurada a 25 de abril de 2003.
A abertura da Paços Galeria Municipal marca o forte compromisso de Torres Vedras para com as Artes e a Cultura, às quais é conferida inequívoca centralidade no âmago de um projecto de cidade.
Ancorada numa visão que consagra às instâncias públicas o dever de garantir a todos e todas o pleno exercício de direitos culturais, a Paços é, e sempre será, um lugar de resistência, de afirmação da democracia, de inconformismo, onde se reclama, agora e sempre, o direito a ‘imaginar o impossível’.
No ano do seu 20º aniversário a Galeria Paços fita o futuro certa de que a sua força renasce no olhar de cada um dos artistas que nela expõe.”
Expus duas aquarelas com bordados, tamanho 24×32 cm, intituladas “Sete Barras I e II”e uma série sem título com 6 aquarelas em tamanho postais de casas e fragmentos de construções de comunidades periféricas de São Paulo. Minha intenção foi retratar, ao mesmo tempo a fragilidade e precariedade dessas construções, bem como a beleza escondida nessa arquitetura de improviso.
As Oficinas de Desenho
Como contrapartida à Residência, eu deveria oferecer oficinas de Desenho à comunidade.
Me indicaram os alunos do último ano do ensino médio, de uma escola local.
Nossas oficinas (foram 3 ao total) foram na rua, em frente à Galeria Paços, onde tentei ajudá-los a capturar de forma fácil e minimamente precisa a perspectiva de um ponto de fuga, muito comum em desenhos de rua.
Os alunos participaram ativamente, e os resultados, apesar o exímio tempo de que dispunham para desenhar, foram surpreendentes!
Trabalho de conclusão da Residência
Frotagem – A história sob nossos pés
Quem realmente presta atenção aos bueiros? São elementos sujos e negligenciados, constantemente pisoteados, ocultando redes de esgoto, canos e fiações. No entanto, para além de sua função utilitária, algumas das tampas de bueiros, elaboradas em ferro fundido, contam uma parte fascinante da história das cidades. Elas trazem consigo os nomes de empresas de serviços públicos (algumas já extintas), datas e códigos, todos adornados por intrincados desenhos geométricos e padrões decorativos. Com sorte, podemos até encontrar algumas tampas mais antigas, ostentando o brasão da cidade.
Este trabalho com técnica de frotagem tem como objetivo representar e resgatar esses pequenos tesouros esquecidos que repousam sob nossos pés.
Livro de Artista com aquarelas – Construcões precárias
“Tenho fascínio por ruínas e casas abandonadas. Vendo-as, não consigo deixar de pensar como teria sido a construção original nos seus melhores dias. Seria aquela a parede de uma sala? Um dormitório? Quem dormiu aí? Que móveis decoravam esse ambiente? Portas abandonadas e lacradas, possivelmente há décadas me fazem pensar: A quem pertence a casa? Por que estaria fechada? Por que a abandonaram? Que razões levaram a isso? Por que nunca mais voltaram? O que resta lá dentro?
Essas inquietações geraram essas aquarelas, que apresento em forma de livro (porque contêm uma história) que se sustenta de forma precária, como as casas que pintei, para compartilhar com todos os esses meus devaneios.
Ensaio reflexivo
Torres Vedras e sua gente
Cidade Pequena, gente de coração grande
Torrenses que conheci durante a Residência
No Residencial São Pedro, o acolhimento de Dna. Cristina fez toda a diferença. Pequenina, mas muito ativa, não me deixou carregar a mala pesada até o segundo andar, fazendo questão de me ajudar. Presença certa nos cafés da manhã, nos recebia sempre com seu sorriso, cafezinho quentinho e perguntando se não queríamos mais pãezinhos…
No restaurante do CAC, onde almoçamos por duas vezes, a mesma senhora que prepara as comidas – simples e saborosas – também cuida das mesas, dos pedidos, dos cafés… sem nunca perder a simpatia e alegria.
No Restaurante Beirão foi onde andamos mais vezes. Almoço e jantar durante toda a semana da residência. Lá ficamos amigos de todos. Catia, Carlos, Nuno, Susana, Sr. Fernando e Sra. Bia, a cozinheira mãos de fada. Sempre que elogiávamos a Sra. Bia, o Sr. Fernando nos dizia que ele também merecia os parabéns afinal tinha sido ele a fazer as compras, numa brincadeira com a esposa.
Como virou quase rotina, saindo do Beirão, íamos ao DOC, onde Pedro nos acompanhava no brinde com generosas dose de vinho do Porto, que dizia ele, ser mais apreciado pelos estrangeiros que pelos portugueses.
No Café Havanesa conheci do Sr. Vitor. Quando percebeu meu sotaque, logo me perguntou de onde eu vinha. Disse-lhe que sou de São Paulo e ele, de forma divertida, me disse que “vinha dali mesmo”… Depois me sugeriu o doce ovo de amêndoa, que segundo ele era uma “mãravilha”. E era mesmo…
Ainda teve a Sra. Carla do Colmeia, que me prometeu que ano que vem vai ao Brasil, a Cila – “com C porque vem de Lucília” – da Casa Torta, onde funciona o “escritório” do Lauro, o Senhor Paulo e Sra Vera, da Loja Koala, na Praça Municipal, onde eu comprava água todos os dias pela manhã; os funcionários do Hotel, com quem cruzávamos no vai de vem de todos os dias…
E como não dizer das funcionárias da Porta 5. Patricia, Diana, sempre nos perguntando se precisávamos de algo e se colocando a disposição para solucionar todas nossas demandas.
Foram dias deliciosos, onde me senti muito acolhida, segura e benvinda.
Só agradecimentos a todos os envolvidos nesses lindos projetos: O Encontro Internacional de Desenhadores de Rua e o Coletivo Brasil. Por fim, um agradecimento especial a Lauro Monteiro Filho e André Duarte Baptista pelo convite, e à Câmara Municipal de Torres Vedras na pessoa da Sra. Laura Maria, a presidente e Sra. Ana, Vereadora da Cultura.
Querida Torres Vedras, um grande abraço e até breve!!
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